31 março 2011

31 de março de 2011




Enterro de Vladmir Herzog

    Os herdeiros da parcela brasileira que apoiou a possibilidade de um golpe militar no Brasil naqueles idos de 1963/64, hoje estão assistindo ao Big Brother Brasil. São desinformações como essa que geram a ilusão de que o golpe militar teve apoio popular. Tudo não passou de uma grande enganação. E quando ficou claro que a ditadura era pra valer, a população passou a ter consciência do que estava acontecendo e reagiu. Os militares não saíram do poder porque estava tudo assegurado, mas porque eles perderam a moral, política, legal, ética etc. Eles ainda tinham força física, mas não tinham legitimidade e nem mesmo forças pra enfrentar a situação. Sair com as armas em punho para enfrentar estudantes, trabalhadores, homens e mulheres civis desarmados deixou-os sem saída. Ou matavam todos ou renunciavam. Esta foi a grande conquista do povo brasileiro! Eu também estava lá e encarei muitos militares armados e até hoje eu me pergunto de onde veio a coragem para enfrentar homens armados quando se está de mãos vazias. E a resposta que eu encontro é sempre a mesma. A dignidade humana desmonta qualquer armamento bélico. Quando você precisa de armas para conter um povo e mesmo assim não consegue detê-lo, não adianta mais matar porque sempre haverá alguém para substituir os mortos. Então, a abertura política no Brasil foi uma grande conquista de um povo, cuja juventude não tem idéia do que se passou. Em nossas escolas de hoje em dia, tudo é ensinado como se fosse um filme de ficção científica. Mas lembrar é muito importante. E não deixar que alguns cidadãos desrespeitem os direitos dos outros é muito mais importante, pois amanhã eles estarão tentando tirar o direito de todos, como aconteceu no passado. Hoje nós vivemos uma democracia que pode ter diversos defeitos mas tem enormes virtudes. Não é em qualquer país que um tabalhador pode chegar à presidência. Eu não estou defendendo o ex-presidente, mas o princípio político que o permitiu chegar ao poder. Isto não nos foi dado. Foi conquistado com muita luta, suor e sangue!

Walter Miranda
Vladimir Herzog Notebook, 2005 - Walter Miranda
“... O mundo hoje, como um todo, é mais primitivo do que há cinquenta anos. Algumas áreas atrasadas progrediram e vários dispositivos foram desenvolvidos, sempre de alguma maneira relacionados à guerra e à espionagem policial, mas a experimentação e a invenção praticamente deixaram de existir, e os estragos causados pela guerra atômica da década de 1950 jamais foram inteiramente reparados. Contudo os perigos inerentes à máquina continuam existindo. Assim que ela surgiu, ficou claro para todas as mentes pensantes que os homens já não seriam obrigados a trabalhar - e que, como consequência, em grande medida a desigualdade entre eles também desapareceria. Se a máquina fosse usada deliberadamente para esse fim, a fome, o trabalho duro, a sujeira, o analfabetismo e a doença desapareceriam em poucas gerações. E de fato, mesmo sem ser usada com tais objetivos, mas como uma espécie de processo automático - pelo fato de produzir riqueza que em certos casos era impossível deixar de distribuir -, a máquina elevou enormemente o padrão de vida do ser humano médio num período de cerca de cinquenta anos, entre o fim do século XIX e início do XX.
1984- Estigma de George Orwell VI, 1983 - Walter Miranda
                Mas também ficou claro que o aumento global da riqueza talvez significasse a destruição - na verdade em certo sentido foi a destruição - da sociedade hierárquica. Num mundo no qual todos trabalhassem pouco, tivessem o alimento necessário, vivessem numa casa com banheiro e refrigerador e possuíssem carro ou até avião, a forma mais óbvia e talvez mais importante de desigualdade já teria desaparecido. Desde o momento em que se tornasse geral, a riqueza perderia seu caráter distintivo. Claro, era possível imaginar uma sociedade na qual a riqueza, no sentido de bens e luxos pessoais, fosse distribuída equitativamente, enquanto o poder permanecia nas mãos de uma pequena casta privilegiada. Na prática porém, uma sociedade desse tipo não poderia permanecer estávelpor muito tempo. Porque se lazer e segurança fossem desfrutados por todos igualmente, a grande massa de seres humanos que costuma ser embrutecida pela pobreza se alfabetizaria e aprenderia a pensar por si; e depois que isso acontecesse, mais cedo ou mais tarde essa massa se daria conta de que a minoria privilegiada não tinha função nenhuma e acabaria com ela. A longo termo, uma sociedade hierárquica só era possível num mundo de pobreza e ignorância.”

1984/ George Orwell - Pg. 225/6- Editora Schwarcz Ltda.





... No topo da pirâmide está o Grande Irmão. O Grande irmão é infalível e todo-poderoso. Todos os sucessos, todas as realizações, todas as vitórias, todas as experiências, científicas, todo o conhecimento, toda a sabedoria, toda a felicidade, toda a virtude seriam um produto direto de sua liderança e inspiração. Ninguém jamais viu o Grande Irmão. Ele é um rosto nos cartazes, uma voz na teletela. Podemos alimentar razoável discussão quanto ao ano em que nasceu. O Grande Irmão é o disfarce escolhido pelo Partido para mostrar-se ao mundo. Sua função é atuar como um ponto focal de amor, medo e reverência, emoções mais facilmente sentidas por um indivíduo do que por uma organização."

1984/ George Orwell - Pg. 245 - Editora Schwarcz Ltda.


Nenhum comentário:

Postar um comentário